sexta-feira, 3 de junho de 2016

Pare de parecer. Para ser você, pare de ser para os outros!


"Redes sociais se transformam em gigantes murais de ego"

Dois minutos se passam… Hum… Quantos likes e shares meu post recebeu? Sem querer, penso em voz alta e minha filha de seis anos me olha com vários pontos de interrogação. Mais do que explicar o que são likes, shares, posts e redes sociais, fico envergonhado pelo motivo da pergunta.

Poucos se dão conta, mas rede social é um termo politicamente correto para um mural de egos. Se dúvida disso, lembre-se da última vez que publicou algo e nenhum mísero mortal conectado se deu ao trabalho em clicar no ícone do joinha. Por isso, as primeiras (verdadeiras) redes sociais como eGroups, Yahoo! Grupos, Classmates, SixDegrees e mesmo Friendster fracassaram porque atendiam uma necessidade abaixo do que Facebook, Twitter, Linkedin, Instagram ou Pinterest resolve.

E mesmo agora, sua verdadeira rede social é atendida pelo WhatsApp, Gmail, Skype, Snapchat, e o próprio telefone celular, é claro. É aqui que estão seus familiares, amigos e conhecidos mais próximos e que acessa com mais frequência e interesse.

As chamadas redes sociais são cada vez mais pregões por joinhas (curtir) e setas para direita (compartilhar) e poucos conseguem ficar tanto tempo em uma bolsa de valores de egos com tantos falando sobre si ou de suas verdades ou outros berrando suas causas (que mudam a cada semana).

Na lógica da Pirâmide de Necessidades de Maslow, dado que as necessidades básicas (sobreviver), de segurança (viver) e sociais (conviver) estejam resolvidas, surge a necessidade do “querer ser” querido e reconhecido. São necessidades que, em geral, são resolvidas por fatores externos já que “parecer ser” já contribuiu para o aumento da autoestima e confiança das pessoas.


Daí a necessidade crescente de parecer ser o que os outros valorizam. Mesmo que não perceba desta forma, muitos empreendedores aprenderam a tirar proveito. Enquanto muitos tentam copiar o GoPro, poucos se atentam que sua câmera não filma momentos incríveis, ela gera mais likes e shares. Os organizadores do Lollapalooza sabem que os jovens não vão ao evento apenas pelos músicos presentes. Eles querem viver uma experiência surreal que possa ser compartilhada em suas redes sociais.

É isto que tem determinado o nível de status de cada pessoa em suas redes de relacionamento.

O problema é que esta necessidade comum a todos nós, pode começar a extrapolar, tornando-se uma escalada de encheção de saco, hipocrisia e até contravenções como ocorrem com as postagens de ostentação de itens roubados, armas e até cenas de crimes.

Muitos acreditam que ser para os outros é sua principal necessidade e se esquecem que há uma outra ainda maior que é ser o que é sendo você mesmo.

Mas para ser é preciso parar de parecer ou de querer ser. Ser é descobrir o não ser dos caminhos errados, portas fechadas e páginas não encontradas. Ser é se questionar de tempos em tempos desfragmentando crenças nocivas e atitudes tóxicas. Ser é estar continuamente em reconstrução. É tornar-se empreendedor de si mesmo!


Marcelo Nakagawa é professor de empreendedorismo e inovação do Insper

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