quarta-feira, 21 de maio de 2014

Síndrome do ‘coitadinho


Tolerância. Uma virtude que nossos pais sempre nos ensinaram a cultivar. ‘Devemos ser tolerantes com os mais fracos, com os menos favorecidos’ sempre disseram eles, baseados em princípios, muitas vezes, religiosos. O espírito de comunidade, a grata sensação de pertencer a um grupo, o acolhimento e a neutralização das diferenças ajudaram a construir civilizações e nações. Vemos a tolerância ser manifestada em situações corriqueiras, como as oportunidades dadas aos deficientes físicos, o espaço garantido aos mais velhos, a receptividade às minorias étnicas, o aumento da liberdade que favoreça o desenvolvimento infantil e assim por diante.

Talvez nenhum outro governo na história tenha esta característica tão marcante quanto a atual gestão. Isto deveria ser motivo de orgulho, no entanto, vemos que a tolerância também pode ser mal utilizada quando em excesso e no desrespeito às leis que garantem a ordem pública. Carros velhos, sem a menor condição de trafegar, poluentes e perigosos, não são retidos porque os policiais ficam com pena de tirar o único recurso de sobrevivência do cidadão. Movimentos de Sem Terra invadem fazendas e destroem propriedades privadas de forma tão abusiva que a própria imprensa já se recusa a dar publicidade de graça a estes baderneiros, mas nada acontece porque temos que ter pena desta classe desfavorecida. Empresas são forçadas a readmitir maus funcionários por pressão do sindicato, diante de alegados problemas de saúde, comprovados por atestados cuja maioria é forjada por médicos corruptos. Parlamentares usam e abusam do poder, se corrompem e mentem descaradamente com a certeza da impunidade. Rádios-pirata colocam em risco o setor de transporte aéreo, saem do ar, mas voltam pouco tempo depois. Professores ‘dão um jeitinho’ de arredondar a nota do aluno para ele passar na matéria porque ele precisa ter uma chance na vida (ou algumas). Camelôs e ambulantes em situação totalmente irregular infestam cada vez mais as ruas, tirando espaço de transeuntes com suas quinquilharias de baixa qualidade, em uma briga desigual com lojistas que pagam impostos, mas ninguém faz nada porque ninguém tem coragem de tirar o sustento destes pobres coitados. Policiais trocam tiros com bandidos a céu aberto, matam mais do que os próprios bandidos e tudo é aceito por ser o preço que se paga para combater a violência. Pais de família abandonam seus empregos porque descobrem que é mais rentável ser pobre desempregado do que lutar por um lugar na classe média. Fiscais fazem vista grossa diante de obras civis irregulares. A diplomacia brasileira engole desaforos de países nanicos porque estes são pobres e merecem nossa tolerância. 

E assim, aprendemos a deixar nossos filhos desperdiçarem comida, separamos um dinheirinho para dar às crianças no semáforo, damos de ombros quando alguém faz uma conversão errada e quase provoca um acidente, não reclamamos quando esperamos ser atendidos e nos deixam plantados no telefone, pagamos para consertar aquela blusa que veio desfiada da loja, demoramos para dar início a um evento para esperar todos os atrasados chegarem, não ligamos quando faltam algumas moedas no troco, e assim a cultura se reforça.

A gota d’água caiu quando um amigo meu teve a sua casa de praia invadida e roubada. Ele lamentou, xingou, mas no final deu de ombros e disse conformado: Pelo menos fiz a minha parte na redistribuição de renda! Ora, ora, quando daremos um basta a esta cultura? Quando descobriremos que passar a mão na cabeça não nos fará uma nação mais forte? Quando nos daremos conta dos danos que estamos causando a nós mesmos?

Agora, pensem em nações empreendedoras, pensem em organizações empreendedoras, pensem em pessoas com perfil empreendedor. Dificilmente você encontrará algum que não tenha tido sua determinação e perseverança testadas em algum momento de sua história. Por trás de muitas histórias de sucesso, vemos muitas limitações e restrições. Não raro, encontramos empreendedores dando depoimentos de que só se tornaram fortes porque passaram por privações e dificuldades. Muitos, inclusive, agradecem aqueles que recusaram suas idéias porque estes ‘não’s os forçaram a rever seus projetos e melhorar suas idéias.

Já passei por várias situações, com alunos, com filhos e com outras pessoas, em que tive dó e quase não fiz o que precisava fazer: reprovar, colocar de castigo ou recusar uma ajuda e às vezes é mesmo difícil discernir o momento em que tenho que ser tolerante e quando preciso ser duro e inflexível. Acho que, de uma forma geral, a tolerância não pode se tornar uma rotina. Temos que ser tolerantes sim, mas em regimes de exceção. Não podemos cair na armadilha de deixar as pessoas se acostumarem com a tolerância.

Sabe qual foi o melhor aluno que eu já tive? Foi um aluno que peguei colando na prova há 7 anos, dei zero e o reprovei. Era um aluno mediano, sem muita projeção na classe, mas ele chorou, implorou, brigou, deu mil desculpas e justificativas, principalmente dizendo que ele não era assim, mas no fim saiu inconformado e batendo firmemente os pés. No semestre seguinte ele voltou disposto a me mostrar quem ele realmente era. Participou das aulas, pediu bibliografia complementar, fez inúmeros resumos da matéria e no final, se tornou um dos meus poucos alunos que conquistaram a nota máxima em minha disciplina. Ainda nos correspondemos com certa freqüência e, há duas semanas, me passou um email dizendo que havia decidido se tornar professor!

Uma boa técnica que uso para identificar empreendedores é colocando barreiras e empecilhos. Ao invés de entregar as coisas facilitadas, já ‘mastigadas’, eu dificulto algumas coisas de propósito para ver a reação. Se um processo é muito burocrático, demorado, lento, complicado, muitos desistirão, mas só os empreendedores persistirão e tentarão mudar as coisas para melhor.

Às vezes, tudo o que precisamos para crescer é um pouco de esforço.


Fonte: Administradores

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