quarta-feira, 30 de julho de 2014

Um olhar vindo do exterior


Foto / Divulgação
É possível que a imensa maioria das pessoas que tenham um mínimo de cultura conheça o escritor Mario Vargas Llosa. A Wikipédia traz sobre ele: Jorge Mario Vargas Llosa, primeiro Marquês de Vargas Llosa (Arequipa, 28 de março de 1936) é um escritor, jornalista, ensaista, nobre e político peruano, laureado com o Nobel de Literatura de 2010.

Uma coisa são as opiniões que damos aqui dentro, no Brasil, sobre nossa vida política. Outra é conhecer a observação de um Prêmio Nobel, olhando-nos de fora, ainda que o resultado não vá diferir. É alguém que enxerga as coisas como elas são.

Em artigo publicado no Estadão do domingo passado, o escritor, sob o título "A Máscara do Gigante", analisa o período de governo de Lula e Dilma. Se houvesse espaço aqui, eu o reproduziria por inteiro, tamanha a precisão de suas observações.

Destaco, todavia, alguns trechos, por si só capazes de mostrar ao leitor como se passam as coisas em nosso país, embora me permitam ressalvar, esse mesmo leitor saiba disso.

Referindo-se à derrota da nossa Seleção frente a Alemanha, por 7 a 1, na recém terminada Copa do Mundo, Vargas Llosa diz que no futebol como no todo, o Brasil vive o fenômeno de uma ficção brutalmente desmentida pela realidade. Diz ele que tudo nasce com o governo Lula , um mito universalmente aceito, de que deu um impulso decisivo para o desenvolvimento do Brasil, desertando o gigante adormecido e encaminhando-o em direção das grandes potências.

Lula logrou eleger Dilma, que agora quer se reeleger ,quando na verdade a condição da economia parece substituir o mito – e a responsabilizam pelo declínio veloz, pedindo o retorno do lulismo, do governo que semeou com suas políticas mercantilistas e corruptas as sementes da catástrofe. Segundo Vargas Llosa, não houve nenhum milagre de Lula e Dilma, e sim uma miragem que só agora começa a se desfazer , como ocorreu com o futebol brasileiro.

Com clareza diz o político peruano : “ O endividamento que financiava dispendiosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e os atuais) ao cárcere ou ao banco de réus. As alianças mercantilistas entre governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários e empresários que criaram um sistema tão infernalmente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento."

Vargas Llosa segue implacável : "De outro lado, o Estado embarcou, muitas vezes, em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os desembolsos feitos em razão da Copa do Mundo são um formidável exemplo. “

Afirma ainda que o BNDES financiou quase todas as empresas envolvidas na Copa e todas elas subsidiaram o PT . Para cada dólar doado pelas empreiteiras ao partido de Lula, elas obtiveram entre 15 e 30 em contratos. "As obras constituíram um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade(...) e o planejamento foi tão precário que metade das reformas só será concluída depois do Mundial."

Mais adiante diz Llosa: "Em todos esses anos, primeiro com Lula, depois com Dilma, o Brasil viveu uma mentira que seus filhos e netos pagarão quando tiverem de começar a reedificar, desde as raízes, uma sociedade que aquelas políticas afundararam ainda mais no subdesenvolvimento."

Se Dilma vencer, argumenta o peruano, o povo brasileiro estará não só lavrando sua própria ruína como logo descobrirá que o mito em que está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da seleção de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo.

Ele fecha com a chave de ouro, da realidade : "É verdade que o Brasil havia sido um gigante que começava a despertar nos anos em que foi governado por Fernando Henrique Cardoso, que organizou suas finanças, deu firmeza à moeda e assentou as bases de uma verdadeira e genuína economia de mercado. No entanto, seus sucessores, em vez de perseverar e aprofundar reformas , as foram desnaturando e devolvendo o país às velhas práticas."

Quem olha de fora enxerga, às vezes, muito melhor do que quem cá vive.

Por Paulo Saab
Fonte: Diário do Comércio - SP

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