Longas horas de labuta estão associadas a
efeitos agudos de fadiga, como sonolência e desatenção
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Reduzir
a jornada de trabalho não reduz em igual medida a produtividade do
profissional. Por mais paradoxal que pareça, essa é a conclusão da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), em estudo divulgado em 2011. E ela não está sozinha. Dois anos
antes, uma pesquisa em manufaturas americanas mostrou que espichar
em 10% as horas de labuta comprometia em 2,4% a
produtividade média dos trabalhadores. A relação inversa entre os dois
aspectos se manteve em análise nos países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Final de semana com quatro dias melhoraria qualidade de vida
Saiba quando o trabalho pode prejudicar a sua saúde
Por motivos diferentes, worklovers e workaholics pecam pelo excesso
Saiba quando o trabalho pode prejudicar a sua saúde
Por motivos diferentes, worklovers e workaholics pecam pelo excesso
De
acordo com a OIT, longas jornadas estão associadas a efeitos agudos de fadiga,
como sonolência e desatenção, favorecendo erros e acidentes.
Já uma carga horária pesada na semana também traria riscos de problemas
crônicos de saúde e conflitos entre a vida pessoal e a profissional.
Se o
patrão levasse em conta um diagnóstico para 16 países feito pela Fundação
Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e Trabalho, adotaria meio
período e horários flexíveis para empregar pessoas
mais comprometidas no trabalho e mais relaxadas fora
dele.
No
Congresso, entre o sim e o não
O
Brasil se junta a menos da metade dos países na adoção da carga
horária semanal superior a 40 horas. Proposto pelo então deputado Paulo
Paim (PT-RS), um projeto de emenda constitucional tramita desde 1995 no Congresso pedindo
as 40 horas e aumento para 75% na remuneração das horas extras.
Hoje senador, Paim cita o exemplo de uma empresa paranaense
que apresentou aumento de 37% na produtividade ao cortar
oito das 44 horas do teto constitucional. O texto
original do seu Pacto Empresarial do Pleno Emprego (Pepe) previa o
mesmo limite de 36 horas, mas foi revisado para 40
horas, jornada máxima recomendada pela OIT em 1935.
– No Senado,
a matéria não tem avançado. Deve ser votada no ano que vem. Garantiria mais
gente consumindo e recebendo. A Previdência arrecadaria mais, haveria menos
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho e melhoraria a
produtividade – lista o senador.
Segundo
Paim, opositores da medida apresentam uma "análise fria"
ao prever o aumento do custo da mão de obra. Em reunião com empresários em
maio, a presidente Dilma Rousseff foi aplaudida ao sinalizar que a pauta é
inoportuna em cenário de pleno emprego, esvaziando a tese de que a
mudança traria novas contratações para suprir as novas brechas no
expediente.
– O
momento do Brasil é bom, mas o pleno emprego é para quem tem o mínimo de
formação técnica. Jovens na faixa dos 20 anos não estão tendo oportunidades de
ingressar no mercado e adquirir experiência – lamenta Paim, acrescentando
que a tendência mundial é caminhar para 36 horas e que "o
problema é convencermos os empreendedores".
Vice-presidente
da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o deputado Laércio Oliveira (Solidariedade/SE) alerta que o
tiro sairia pela culatra, gerando desemprego:
– A
micro e a pequena empresa perderiam muito com esse projeto que não contribui em
nada ao Brasil, não traz vantagem a nenhuma das partes e prejudica a grave
situação econômica que o país atravessa. É uma atitude inconsequente que só vai
prejudicar o setor produtivo nacional – afirma o deputado, para quem
"o único caminho que as empresas teriam seria a demissão".
Quanto
aos trabalhadores que se mantivessem empregados, Oliveira nega que eles
perceberiam qualquer benefício:
– Bem-estar,
mais tempo para se dedicar à família, cuidar da saúde... É um discurso sem
consistência alguma. O trabalhador vai continuar a vida dele do mesmo
jeito. Reduzir quatro horas de trabalho por semana não vai melhorar a qualidade
de vida dele em nada. Para as empresas, sim, o prejuízo vai ser certo –
sustenta, pregando uma reforma trabalhista no país para que,
"sem a ingerência do governo", as relações de trabalho se assentem à
"realidade de cada atividade".
Para
Ana Cláudia Moreira Cardoso, socióloga do Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Brasil tem tanto a
"necessidade" quanto as "condições" de reduzir a jornada.
– As
centrais sindicais retomaram essa campanha lá em 2003. Isso deixa claro o
tamanho da resistência. Trata-se do cerne da relação trabalho-capital, que
é o tempo de trabalho. Historicamente, a diminuição da jornada nunca aconteceu
de forma tranquila, sempre resultou de muito embate – observa a
socióloga.
As
confederações que representam o empresariado têm defendido
que o assunto deve ser resolvido sem a intervenção
estatal, já que os acordos coletivos estariam dando conta de
estreitar a lida nas firmas. Uma das várias notas técnicas que o Dieese vem lançando sobre o
assunto nega, entretanto, esse argumento.
– Temos
um grande banco de dados, pesquisamos acordos e convenções para ver se
havia esse fenômeno, e não foi o que verificamos. A redução a
partir de acordos é uma experiência localizada, de metalúrgicos do ABC
Paulista e de uma ou outra categoria muito pontualmente, como a de
farmacêuticos em São Paulo – diz Ana Cláudia.
Em
2009, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sinalizou que 37 é
o número certo para garantir emprego a todos os brasileiros. Já o Dieese diz
que, ficando em 40, já seriam gerados 2 milhões de empregos.
A
tendência mundial é de redução. A Alemanha, tradicionalmente uma das
maiores jornadas da Europa, cortou recentemente a semana de trabalho de 41,6
para 40,8 horas. Na França, o limite de 40 horas, fixado em 1936, foi reduzido
para 39 em 1982 e 35 no ano 2000. Apesar disso, a
França segue entre os países com a melhor relação entre PIB e horas
trabalhadas, à frente de potências econômicas como Alemanha, Reino Unido e
Japão.
– Hoje
o que causa desemprego e falência é a crise de 2008, que nada tem a ver com
redução de jornada. A França reduziu sem perder competitividade.
Competitividade tem a ver com investimento em infraestrutura, educação,
outras questões – sugere a socióloga.
Da
caça ao chão de fábrica
O
consenso científico atual aponta que, dos povos da Namíbia às
tribos amazônicas, o tempo de lazer era muito mais extenso entre
os primitivos do que no mundo urbano de hoje, negando o mito de que os nossos
ancestrais pré-históricos passavam o dia caçando o pão de cada dia.
Trabalhar permaneceu
como atividade atada aos limites das estações do ano até que a
Revolução Industrial, no século 18, passou a esvaziar a zona rural,
atraindo camponeses para o interior das fábricas das grandes cidades.
Transformando noite em dia, a luz artificial criou um turno novo de
trabalho. Assim, era possível bater o ponto na firma e sair somente
16 horas depois.
Henry
Ford, fundador da montadora de carros que leva o seu sobrenome, foi pioneiro na
redução das horas de trabalho. Não que ele prezasse pelo bem-estar de seus
funcionários: Ford percebeu que os trabalhadores precisavam de tempo
livre para comprar produtos e manter a roda da
economia girando. Ao justificar por que, sem reduzir salários, havia trocado
a semana de 48 horas/seis dias pela de 40 horas/cinco
dias, Ford disse que os trabalhadores precisavam
de períodos vagos para descobrir utilidades
para mercadorias como o próprio automóvel.
Fonte: Diário Catarinense
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