quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O que aprendi sobre Administração em uma mesa de pôquer

O repórter da Administradores teve uma missão: jogar muitas rodadas do carteado mais popular do planeta e descobrir a relação do jogo com o campo dos negócios. O resultado dessa jornada você acompanha a seguir



Quando se é adolescente, poucas coisas são tão divertidas quanto fazer tudo que nos foi ensinado a não fazer. E uma dessas diversões, que descobri ainda jovem, era apostar. Sem dinheiro suficiente para sair de casa todos os finais de semana (afinal, ser jovem é caro), costumávamos trocar notas de R$ 10 por moedas dos menores valores possíveis para jogar pôquer: quanto mais moedas de 5 e 10 centavos, melhor.
Minha paixão pelas cartas do baralho não era uma coisa nova. Desde pequeno brincava de seja lá o que fosse com elas: tentar ser mágico (horas perdidas tentando adivinhar as cartas escolhidas pelos meus parentes), jogar paciência (de verdade, não esse formato do computador), relancinho (alguém lembra?). Aos 10 anos, aprendi a jogar sueca com meu avô e vencer de toda a família nas festas. Bom, isso até eu descobrir o mundo do pôquer.
Mas o meu “relacionamento” com as cartas foi de idas e vindas. Nos separamos, até, recentemente, surgir uma pergunta na redação: o que se aprende de Administração em uma partida de pôquer? E, com toda minha vasta experiência no campo dos carteados, me ofereci a responder.
Preciso admitir, eu realmente nunca havia parado para pensar que fosse possível aprender algo sobre Administração em um jogo que envolve administrar riscos, ler oportunidades, se preparar para o pior, ter estratégias em longo prazo... é, eu realmente nunca tinha pensado bem no assunto.

Então, para conseguir esclarecer essa questão, decidi voltar a jogar. Liguei para os meus amigos (e isso seria uma oportunidade ótima para vê-los, já que as intempéries da vida fizeram com que esse grupo de amigos se reunisse com a mesma frequência que alguém vai ao dentista). Trocamos as notas de R$ 10 por moedas, compramos petiscos e bebidas para nos mantermos acordados e logo coloquei o motivo da reunião na mesa: “o que eu posso aprender sobre Administração jogando pôquer?” Claramente teríamos que pensar um pouco fora da caixa para chegar às conclusões que queríamos alcançar – e assim o fizemos.

Depois de alguns encontros para a jogatina, um deles de quase seis horas sem interrupções e já vendo o sol nascer, chegamos às conclusões que você irá ler a partir de agora.

Paciência: como não focar apenas em um Royal Straight Flush

Desde o início de meus dias como jogador de pôquer, meu sonho era conseguir o Royal Straight Flush, a melhor mão possível do jogo. Combinando uma sequência de Ás, K, Q, J e 10, todos do mesmo naipe, você automaticamente ganha a mão, ou seja, leva a mesa.
Apesar de comum nos filmes (o que me fez buscar incessantemente por essa mão, afinal, se o James Bond conseguia, por que eu não poderia também?), obter um desses na vida real não era nada fácil. Mais do que difícil, a probabilidade de acontecer é de uma em 650 mil. Em todos meus anos de pôquer, eu nunca vi acontecer, seja comigo ou com alguém na mesa.
Então foi daí que tirei minha primeira lição. Assim como nem todas as cartas que eu receber no pôquer vão se tornar um Royal Straight Flush, nem tudo na vida profissional e pessoal acontece quanto desejamos tão imediatamente. 
 Há uma frase do “legendário” e “folclórico” investidor Warren Bufett que destaca o seguinte: “por maior que seja o talento ou o esforço, algumas coisas exigem tempo: não dá para produzir um bebê em um mês engravidando nove mulheres”. A paciência é algo tão importante para um bom administrador quanto respirar ou saber escrever. É só você parar para pensar nas grandes empresas. Nenhuma – por mais dinâmico que o mercado seja hoje – consegue se tornar um player do mercado da noite para o dia.
Então, nunca entre esperando receber a maior recompensa possível no início. Aliás, para receber as boas recompensas, é necessário saber o quanto apostar. O que nos leva ao nosso próximo ponto...

Finanças: como saber quando investir o mínimo ou quando dar all-in

Após algumas partidas e ao olhar para minha carteira, percebi algo que já havia me esquecido: eu sempre tinha mais dinheiro na minha época de pôquer. Quando eu era um ávido jogador (e por ávido quero dizer jogar três a quatro partidas ao vivo por mês e algumas online), eu conseguia passar o mês com minha mesada! Hoje, mesmo trabalhando, o dinheiro vai se esvaindo. E sim, isso tinha a ver com o pôquer.
Durante o jogo, diversas decisões são feitas sobre o que fazer com o seu dinheiro. Se você tem dez mil em fichas, bom, apostar 500 não é muita coisa, né? Mas se você possui apenas mil, os 500 já são a metade de tudo que você possui. Correr riscos é empolgante, mas quanto mais você se arriscar em coisas desnecessárias (como um 2 e 9 de diferentes naipes na mão), menos você vai ter para se arriscar com coisas que realmente importam.
Call, isso é, pagar a aposta mínima, já é um gasto. Fazer isso com uma mão que não vale a pena se encaixa em duas categorias: ou você arrisca demais por algo que não vai trazer o retorno que precisa para compensar, ou é um blefe, e essa última parte cobriremos já já.
O oposto de correr riscos a todo o momento é não se arriscar de jeito algum. E isso também não vai te levar a nada, afinal, “correr riscos” faz parte da vida de um administrador. Algumas mãos são boas o suficiente para valer a pena a aposta. Dar all in (confiar todas as suas fichas) no mesmo 2 e 9 de diferentes naipes é tão errado quanto dar fold em dois K, isto é, desistir de uma mão promissora. Dê all in naquilo que você confia! Acredita no retorno e está seguro de que sua proposta é rentável? Aposte suas fichas.

Marketing: como fingir que tenho dois ases na mão com um 3 de paus e um 7 de espadas

Blefe é um dos principais elementos do pôquer. Saber vender o seu produto como sendo totalmente superior a todos os outros é uma habilidade que poucos possuem. Mas, bem mais que blefar, saber reconhecer um blefe é tão importante quanto; o que na vida de um administrador é saber quando não comprar ou aceitar um produto. Afinal, o blefe, no fim das contas, tem como fundamento a mentira e a atuação.
Muito comum na rotina de administradores e empreendedores, as "propostas irrecusáveis", ou seja, as que prometem demais e nada cumprem, também estão no pôquer. Mãos vencedoras são mascaradas de mãos ruins, para que todos apostem e caiam.
Dar raise, ou melhor, aumentar a aposta feita pelo seu adversário, é uma das maneiras mais comuns de blefe. Pensar duas vezes ao ver isso acontecer é importante, afinal, não é porque aquela empresa diz que seu produto é bom que você deva acreditar. No fim das contas, se você vacila e alguém consegue fazer você cair, saber se reerguer e ter um plano B para tudo que estiver ocorrendo é sempre o mais indicado. O que nos faz pensar no último ponto...

Estratégia e preparação: ou como reagir a um par de ases na mão do seu adversário

Você se viu encurralado no pior momento possível: seu adversário tem um par de ases na mão e já fez uma quadra com os outros dois ases que saíram durante o flop, isto é, as cartas que ficam sobre a mesa. O que fazer? Se desesperar? Não, assim como no pôquer, no mundo dos negócios precisamos sempre de um plano B. Mesmo que essa última medida seja desistir. Não tem como vencer com essa mão? Dá fold e deixa para a próxima.
Conhecer as pessoas com quem você está lidando, conhecer o mercado que você quer se aprofundar, conhecer o assunto sobre o qual sua empresa vai focar, tudo isso ajuda. Saiba se preparar e montar uma estratégia de crescimento para sua empresa. Saiba observar o mercado e se mova antes dele.
Saiba também colocar dentro da sua estratégia o gasto de suas fichas. Apesar de termos falado disso na parte de finanças, aqui estamos falando do uso das fichas antes da partida começar. Seja precavido com o que vai gastar. Se algo der errado, saiba que a culpa foi sua. A falta de preparação e estratégia tanto no pôquer quanto nos negócios é um dos principais motivos para perder todas as fichas apostadas. Porque no fim, assim como a Administração, o pôquer não é um jogo de azar.
Por Ravi Freitas 
Fonte: Administradores

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